Setembro Amarelo e a Prevenção a uma silenciosa realidade: O Suicídio de Crianças e Adolescentes

Artigos - Ricardo de Moraes Cabezón

No dia 10/09 se celebra o dia mundial de prevenção do suicídio, data que inspirou a dedicação do mês de setembro como o período para conscientização e prevenção a essa tragédia silenciosa que afeta uma família a cada 40 segundos no mundo ocupando atualmente a segunda causa de mortes. 

O Brasil em virtude de sua grande população vem, infelizmente, atraindo os holofotes para essa realidade ocupando em 2014 o oitavo lugar no ranking mundial com o maior número de suicídios (uma morte a cada 45 minutos, 32 por dia segundo dados da Organização Mundial da Saúde).

       

Retrato de causas de mortes evitáveis ou tratáveis entre jovens:

  • 1,3 milhão de jovens morrem anualmente;
  • em primeiro lugar estão os acidentes;
  • em segundo lugar o suicídio;
  • em terceiro lugar HIV/AIDS e infecções respiratórias; e
  • em quarto lugar a violência

Fonte: OMS, CDC, UNICEF

 

Durante 13 anos tive a oportunidade de presidir a Comissão de Direitos da Criança e do Adolescente da Seção Paulista da Ordem do Advogados do Brasil e lá me deparei com outra assombrosa realidade até então desconhecida: crianças e adolescentes também se suicidam, e pasmem, não raramente.

As causas mais apontadas para o suicídio nessa faixa etária estão relacionadas a transição da fase em que a criança tem a proteção integral dos pais para o momento em que passa a conviver em sociedade sem essa “bolha” protetora lidando com pressões, frustrações e uma série de sentimentos que até então não eram experimentados. Quanto mais protegida é a criança maior deve ser a atenção dos pais/família para que essa transição seja acompanhada e ocorra com maior naturalidade.

Atualmente vivemos em um mundo em que depressão não é novidade e muito menos considerada doença exclusiva de adultos (e tampouco se resume aos humanos: animais se estressam, plantas se estressam, crianças se estressam e deprimem etc.).

Se para um adulto já é difícil viver em um mundo com padrão de beleza instituído, consumismo exacerbado (que procura disseminar a falsa ideia de que precisamos ter ou ostentar algo para que sejamos respeitados: o famigerado “ter para ser”), a superexposição em redes sociais, o imediatismo (eu quero AGORA a satisfação e alcance de meus sonhos e projetos)  etc, imagine para uma criança ou um adolescente em que lhe falta maturidade, os hormônios estão em ebulição e muitas dúvidas e aflições nunca imaginadas surgem (entre muitas outras circunstancias): é um período complexo que aliado a FALTA DE ESTRUTURA FAMILIAR, MORAL e ESPIRITUAL desencadeia reações inimagináveis.

Segundo o médico psiquiatra do Hospital Albert Einstein, Elton Kanomata “Toda a parte mental deles está em desenvolvimento. A questão da resiliência e da capacidade de lidar com as frustrações podem não estar prontas”

Nessa trajetória depressiva outros fatores começam a se combinar tais como isolamento (a criança ou o adolescente ‘se fecha’ e omite seus problemas), desespero, angústia e não raramente repercute na fuga de casa, drogadição e tentativa de ceifar a própria vida.

Desafios e “jogos” destrutivos também estão inseridos nessas causas. Temos que estar atentos ao “desafio da baleia azul”, seus substitutos e a uma série de games oferecidos no mercado que acabam instigando, glamourizado/romantizando o suicídio além de proporem a automutilação, fazendo com que nossas crianças e adolescentes se acostumem a essa ideia extrema e até mesmo a cogitem diante de determinadas circunstâncias ou fatos da vida.

Há estudos que apontam que a depressão também pode se apresentar como um reflexo físico oriundo da má alimentação, ou seja, um distúrbio relacionado ao consumo frequente e excessivo de produtos industrializados, refrigerantes e de substituição de refeições por lanches, condutas típicas de crianças/adolescentes que levam ao enfraquecimento do organismo minando a criação de um sistema que garanta a manutenção de sua saude mental. Assim, a alimentação precária associada a atual rotina de sedentarismo/ócio de nossas crianças que preferem um jogo de vídeo game ou assistir um vídeo no Youtube/canal de streaming ao invés de andar de bicicleta ou praticar esportes (por exemplo) elevam as causas que impedem o fortalecimento do sistema imunológico. 

Porém, o remédio mais eficaz para essa grande ameaça transcende a alimentação e a prática esportiva se resumindo em algo que está em nosso alcance: oferecer atenção e exemplo. Precisamos acostumar nossos filhos e entes queridos a lidar com derrotas, frustrações e angústias, como elementos inerentes a nossa vida que propiciam crescimento, resiliência, amadurecimento e perseverança por meio de uma preciosa ferramenta chamada DIÁLOGO. Aliás, mais do que falar é importante atentar para “COMO FALAR” e sobretudo “SABER OUVIR” o desabafo de outrem, procurando exercitar a alteridade (se colocar no lugar do outro) adotando uma postura saudável e exemplar que inspire confiança, segurança e acolhimento. 

É um desafio, sem dúvida, mas é por uma causa muito justa: à nossa família e ao futuro de nossos filhos!

 

Se você tem ou conhece pessoas que tenham pensamentos suicidas persistentes ou planeja um suicídio, ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV) no número 188, de qualquer lugar do Brasil. Também é possível entrar em contato com a organização via internet, a partir de e-mail, chat e Skype 24 horas por dia (www.cvv.org.br). Outro canal disponível para pessoas que passaram por traumas, abusos ou bullying pela internet (cyberbullying) é o Safernet que tem plantão de atendimento no site www.safernet.org.br.

 

*o professor Ricardo de Moraes Cabezón é Advogado, Jornalista, obteve o título de Doutor “com distinção” em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP, é Mestre em Direitos Difusos e Coletivos, Pós Graduado em Direito Processual e em Docência do Ensino Superior, Professor Universitário, autor de obras e artigos jurídicos. 

 

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